Esconderijo

(a Danilo Lago)

me esfarelo em versos
preso a uma cabeça baixa,
planejo rebeliões
mais verdadeiras que os meus fatos
mas algemado ao lamento dos deuses,
me esfarelo em versos
mais verdadeiros que os Lagos ainda nunca mergulhados.

eu queria atravessar a rua despido de todos os pudores
levantar minha foice
rasgar todas as verdades vestidas de terno
porque são Mentiras
e fazer chover todas as mentiras de minhas neblinas
porque são Verdades.

se guardo algo para mim
se tenho histórias para o mundo
tenho apenas um livro aberto
e ele quem vira as páginas de meu rosto
minha esperança é um sorriso irônico
mas antes fosse doce a ironia
meus sorrisos estão enroscados
e os meus sorrisos, antes eles fossem meus.
       
me esfarelo em versos
quem encontrar os restos
os jogará no lixo da cozinha
junto a poetas esfarelados,
ou servirá como alimento
aos filhos brigados com a sorte?
   
depois que me apagar por completo,
a timidez ainda será a herdeira de minha morte?