Um dia


Saíram da sala em silêncio. Caminharam rumo à saída da faculdade em silêncio. Ele fez uma pergunta banal, mas que foi realmente uma pergunta. Geralmente ela acaba a aula que horas? Essa hora. E depois tudo foi gestos pequenos, falta de olhares, ar, distrações, tsc. Essas coisas também comunicam, com a diferença de que são muito mais obscuras que as palavras, ou que a falta delas. Há silêncios em que faltam sons, e há silêncios em que apenas falta. Tá sentindo um cheiro forte de feijão podre? Não... Tá faz tempo? Aham. Espero que não seja eu. Nessa hora ela cheira-lhe o ombro e diz Não.... E depois tudo foi gestos bem pequenos, falta de olhares, menos ar e menos distrações. Nenhum dos dois, que são amigos belíssimos, entendia, pois talvez que não houvesse o que entender. Foi assim no percurso em pé, no percurso do ônibus, no percurso do trem. Ele claramente sentia carência de algum olhar em seu olho e de um abraço que não recebera no momento do reencontro. Ela era claramente um Mistério. Chegaram à bifurcação de seus caminhos, e ele disse, mas sem as palavras, te acompanharia neste silêncio até que chegasse na sua casa, e ao lado de sua cama até que caísse no sono, mas você sabe que queremos pouco e podemos menos ainda. Com as palavras, disseram Bom, até mais. Até.