Labuta


(a Maria Karina)

"(...) A vida humana não se define biologicamente. Permanecemos humanos enquanto existe em nós a esperança da beleza e da alegria. Morta a possibilidade de sentir alegria ou gozar a beleza, o corpo se transforma numa casca de cigarra vazia". Rubem Alves


   
Não te findes, amiga, a esperança
Dessas pernas enroladas, inaudíveis.
‘Inda que não veja mudanças incríveis
Há silêncios que guardam incríveis mudanças.

Te apega num amor que, de criança,
Vê recanto nas palavras invisíveis.
Que te cessem os olhares impossíveis;
Que te canses dessa vida que te cansa.

E se as palavras em paz te ofendem de descrente
E julga, sem plantar semente, colher a fruta,
Então que grite, chore, chute – escara bruta –
   
Mas rogo que a teu corpo fale humildemente
E se acaso ele, discrepante, não te escuta,
Tenha sempre em corpo e mente: é urgente a luta!